A sucuri deslizava pelas folhas úmidas e malcheirosas mostrando sua língua bífida de um lado para o outro captando os odores da queixada. Hoje, estava decidida a comer torresmo.
O queixada frequentava aquele local da floresta com frequência, e cada vez mais se afastando dos demais da manada, a sucuri não entendia os motivos que levavam o queixada na densidade da floresta e também não a interessava, se banquetearia, e ficaria de pança cheia por muitos dias.
Deslizou seu corpo musculoso e flexível por cima das raízes gigantescas da seringueira, e esperou.
O queixada vinha tranquilamente cheirando, arrancando raízes, larvas e minhocas de dentro da terra, roncando aqui e ali.
A sucuri se preparou, o queixada estava quase entrando no círculo essencial que ela tinha preparado, uma vez dentro dele, o queixada não poderia escapar!
Ele comeu uma raiz, depois arrancou a casca da árvore, comeu todas as larvas, cheirou o chão próximo do círculo essencial, e hesitou, de alguma maneira, no interior de seu ser, sabia que algo estava diferente, farejou uma, duas, três vezes, deu um, dois passos pra frente, então veio o bote.
A sucuri avançou pra cima do queixada, que virou-se e cravou as presas enormes no corpo da sucuri, sangue jorrou por todos os lados, mas o corpo da cobra se enrolou no queixada espremendo-o, os olhos do queixada brilharam com uma aura avermelhada, uma expansão abrupta de sua essentia percorreu o corpo da sucuri fazendo-a estremecer, o círculo essencial que a sucuri tinha criado se desfez, o queixada se debateu com todo o vigor para se soltar, rasgando ainda mais o corpo da cobra, mostrando parte de seu exoesqueleto.
Logo, os músculos que há poucos segundos o sufocavam, de repente se afrouxaram enfraquecidos, os olhos da cobra que antes emitiam o brilho da vida, agora jaziam estáticos e esmaecidos, a língua bifurcada esticada para fora sem vida.
O queixada correu floresta adentro, afobado e espantando tudo o que estava em seu caminho, sapos, grilos, aves.
A onça de aura azulada que dormia sossegada num tronco caído numa clareira apreciando o sol da manhã, despertou interessada, ela pulou para cima do galho, se escondeu entre as folhas da árvore.
O queixada caminhava devagar agora, tentando encontrar o caminho enquanto recuperava seu fôlego, seu corpo ainda tremia, os pelos ainda estavam eriçados, e ele olhava desconfiado para todos os lados.
Mas, seu estado de alerta não foi o suficiente para prever o bote perfeito, a onça de aura azulada caiu em cima do queixada, cravou os caninos na base de seu crânio o queixada não ouviu nada, não entendeu nada, só o que viu, foi escuridão.